Ele

Naquele dia o teto que o protegia estava forrado
de rosa e púrpura
e em seu tapete de folhagens de vivos verdes
pisavam os pássaros que beliscavam sua refeição matinal

Alguns destemidos sentavam em seu sapato preto lustroso
se sentindo intímo daquele contemplativo ser

O banco já tinha a marca de suas nádegas
a praça já podia ter seu nome
os cantantes já podiam ser seus filhos .

Homem cheio de amores
futurescos, imaginários , razantes , profundos .

E eu .

A voz era coisa linda , de uma singularidade
de só quem tem tudo e nada pode ter .

Me atingiu .

 Rodeado de sons , passado e um casal que assistia tv ;
eram parte da mobília vintage.

Solitário com frescor de vida ,

frescor de amor .

Que seria de uma mulher nas mãos deste homem que divide seu canto com os pássaros ?


Seria ...


eu ?


Em seu chapeu está seu mundo de leveza e sublimidade

amigos bêbados e fotos amareladas

e uma sagacidade insana

de ser exatamente o que é


O que sou eu

pra

ti ?


Naquele dia ela estava protegida de concreto maquiado de branco

contemplando

a  foto preto e branco

do  homem que tocava ao piano

não diga adeus .

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