sexta-feira, 6 de junho de 2014

Pensamentos tatuagens

Busquei incessantemente palavras
que fugissem a ideia de ter saído de mim
mas sou uma criatura insuportável e pegajosa
que não desgrudo nem de mim

E isso é chato, horrendo
porque tudo o que queria neste exato momento
eu disse nesse exato momento
era não me pertencer
porque assim como todos nessa galáxia infame
tem dias que a gente não se suporta
e hoje eu me odeio
e odeio você
e odeio o mundo
e meus sonhos
a vida
e também os políticos

Eu quero botar a culpa no meu próprio cuspe
porque ele também me enoja
porque a minha saliva , criadas com as palavras que eu já cansei
de inventar pra mim
estão lá , nele ,
no cuspe
agora no chão .

Mas por razão desconhecida ou pura desgraça do destino
elas voltam
e me faz

acreditar nas minhas ridículas
convicções novamente
aquelas que nos fazem acordar todos os dias
e nos deitam como derrotados .

Eu quero me esgueirar pelas estradas
e despir de minha própria pele
impregnada com vontades nos poros ,
trocar de sangue pra não ser 
nem positiva,
nem negativa,
nem rara

Não quero espelhos aos meu redor
quero poeira no resto de mim
até virar terra pura , muita terra
e depois lama
de bem, que já sou lama pura

Só preciso me secar com esse sol que não vem
ele nunca vem 
É  mentira quando diz que ele nos irradia
ele  só gosta de mostrar que é mais poderoso que nós 
e eu também to cansada disso .
Porque acordo querendo ser o sol 
mas aí me deito e lambuzo a cama de lama
e o sol não aparece nem pra secá-la 
Ele tá pouco se lixando
 e eu também .

Cansei .

Cansei da chuva que só lembra tristeza
cansei da natureza
e da minha
triste
esdrúxula
pequenez
natureza
que só me faz teimosa
por querer tanto , tanto

Quem nos criou com tanto quereres assim ?

A gente anseia até por um quindim
ele fica lá rodando a nossa cabeça
amarelado , salivando a nossa boca

aquele cuspe maldito no chão .

Eu quero desaparecer
sem vestígios
sem deixar rastros no meu lençol
ser esquecida da mente daqueles que
azucrinam em aplicativos de mensagem

Me deixem, me deixem !

Me deixem deixar de mim!

Não me aguento, apaguem a luz !

Deixem a escuridão e o barulho me entorpecer !
Me deixem com o que já me acostumei
a criatura pegajosa que
sou eu !

Parem de falar de arco- íris , quero o stripes
do preto e branco
tatear com os dedos
o que me é famíliar .

Porque também tenho medo porra !
E não quero me suicidar como na carta de despedida
de Ana Cristina Cesar .

Eu sou quero ser o hamster ferido

Coberto de lama . 


                                                                      Ilustração Mostafa Akbari









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